A imortalidade é possível?
A possibilidade de descoberta da fonte da juventude é levada a sério num projeto desenvolvido num laboratório da faculdade de medicina de Harvard, onde se conseguiu deter o processo de envelhecimento em ratos. Se funcionaria entre humanos não se sabe, mas as pesquisas serviram para estimular a hipótese de que teoricamente a imortalidade não é uma maluquice.
A pergunta que alguns dos cientistas fazem é baseada na ideia: as pessoas morrem porque ficam doentes, mas e se nunca ficassem doentes? Enquanto a imortalidade não chega, os ratinhos rejuvenescidos trazem a esperança concreta e, aí sim, de que se possa enfrentar melhor uma série de problemas como demência, derrames ou infartos. Para cada parte do corpo atingido, haveria supostamente um jeito de, com novos remédios, torná-lo novo.
Os ratinhos da juventude ajudam a explicar a lista das dez mais promissoras atividades profissionais do futuro, elaborada pelo governo americano, a partir das projeções de mercado de trabalho.
Em primeiro lugar da lista está o engenheiro biomédico, que é capaz de lidar com diferentes ramos da medicina e engenharia unindo conhecimentos de biologia, química, física, genética, ciência da computação, robótica. Pode-se fazer uma perna mecânica movida pelo cérebro. Ou remédios inteligentes capazes de enfrentar tumores, preservando as "células saudáveis".
Na semana passada, duas notícias tiveram repercussão: um "nariz eletrônico" capaz de detectar pelo hálito vários tipos de câncer e uma perna mecânica capaz de responder ao movimento do corpo.
Tudo isso significa um desmonte no jeito que se transmite o conhecimento, provocado em parte pelo mercado de trabalho. "Em nenhum lugar se ensina a ser cientista de mídias sociais para entender como as pessoas interagem nas redes digitais, que é hoje um negócio bilionário", diz Paulo Blikstein, engenheiro que dirige em Stanford um laboratório que une ciência da computação e pedagogia para descobrir formas mais eficientes de aprender.
Um cientistas de mídias sociais pode estudar, por exemplo, em biologia como os micróbios se comportam, seguindo padrões semelhantes aos produzidos pelo fluxo de informação. Pode também conhecer melhor a atitude humana a partir das novas descobertas sobre o átomo. "As disciplinas estão derretendo", acredita Blikstein.
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Ver o mundo a partir de Stanford é enxergar na primeira fila a revolução das mídias sociais e o nascimento de novas carreiras. Em seus dormitórios se inventaram empresas como Google e Yahoo. Aquela universidade foi uma das alavancas do Vale do Silício, na Califórnia, onde germinaram empresas como Apple, Intel, Twitter ou Facebook.
Como o mundo acadêmico não consegue acompanhar o ritmo, as empresas se transformam em centros de treinamento. Daí a universidade criada pelo Google. Quanto mais sofisticada a empresa, mas ela gasta em treinamento e pesquisa, formando suas próprias escolas.
Um dos diferenciais de Stanford foi apressar o derretimento das disciplinas, apostando em centros de pesquisa no campus que unificassem os mais diversos profissionais. Assim, é possível ter numa mesma sala aquele que desenvolve um software para o Twitter e o biólogo que analisa a propagação de micróbios.
O modelo se dissemina por todos os lados. Com o objetivo de encontrar a cura do câncer, o MIT se ligou a Harvard e criou um centro de pesquisa onde trabalham todas as possíveis profissões. Estão no mesmo prédio bioinformáticos, biofísicos, bioquímicos, físicos, matemáticos, engenheiros especialistas em computação, nanotecnólogos. "É como se estivéssemos voltando à Renascença", compara o neurocientista Miguel Nicolelis, que ganhou renome mundial ao desenvolver próteses comandadas pelo cérebro.
Em nenhum lugar se vê isso tão claramente como na saúde. Na lista das dez profissões mais promissoras, 60% delas são funções ligadas a ela. Esse cruzamento de saberes faz qualquer coisa -até a imortalidade- parecer possível.
PS- E pensar que tanta gente acredita que se pode medir um aluno por suas notas em português e matemática!
Coluna publicada no jornal Folha de S.Paulo
Gilberto Dimenstein em 23/04/11
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